Neurose e agora!? 

Na atualidade os problemas psíquicos ou emocionais são comuns. Tornou-se difícil viver em um ambiente livre de stress, sendo motivo de preocupação para os indivíduos e as instituições. Políticas públicas no ramo da saúde e da educação tentam “pegar este macaco pelo rabo”, mas, o fracasso é notório. Precisamos neste sentido entender o significado das neuroses, suas causas e seu funcionamento, será a neurose sinônimo de loucura? Seria um desarranjo emocional? O que é neurose? 

Neste caso o pensador e psicanalista Freud pode nos ajudar a desvendar o funcionamento da psique humana e na compreensão da origem dos aparentes “destemperos” de comportamento humano… a neurose!!  

Dois teóricos freudianos Laplanche e Pontalis (1996) definem a neurose como “doença psicogênica em que sintomas são expressões simbólicas de um conflito psíquico que tem raízes na história infantil do sujeito, e constitui compromissos entre o desejo e a defesa”. Podemos então observar que as neuroses têm relação entre o desejo e as defesas impostas para a realização destas, apresentando no sujeito um conflito constante. Mas porque existiriam barreiras ou defesas para a realização destes desejos desde a infância? O que podemos compreender a princípio é que a maioria dos desejos reprimidos são experiências traumáticas que configuram a origem dos sintomas. Cabe lembrar que para Freud a maior parte dos desejos reprimidos são conflitos de ordem sexual, ligadas apenas à reprodução da espécie, sendo parte fundamental da evolução psíquica do sujeito. A energia sexual proveniente da necessidade de reprodução da espécie segundo Freud é denominado Libido. 

Neste sentido podemos entender que Freud acredita que no desenvolvimento da psique humana existem desejos em busca de satisfação como um insistente “pulsar”, dentre as construções psíquicas devemos considerar o conceito de Pulsão, “um representante psíquico das excitações provenientes do interior do corpo” (ZIMERMAN,1999), uma tensão que busca uma descarga. As pulsões podem ser de duas ordens principais, da Vida, referentes a autopreservação, preservação da espécie e as sexuais e, da Morte, a necessidade de rompimento.  

Partindo deste princípio a relação dos desejos, da busca pelo prazer, relacionadas com as experiências que o sujeito tem com o mundo exterior, podemos compreender diversas formas de sofrimento e dor existencial e, em uma tentativa de reconciliar o interior psíquico com as expectativas do mundo exterior o sujeito cria, mecanismos de defesa, em favor da sua sobrevivência. Estes mecanismos podem esclarecer o funcionamento da neurose, deste estado perturbador e desorganizado. Entre tais mecanismos podemos ressaltar o recalcamento, que representa conteúdos reprimidos a nível inconsciente; a reativa, o sujeito age de forma contrária aos seus desejos, pelo medo do confronto com si próprio; a regressão, uma expressão primitiva onde as ações vão além das consequências previstas; a projeção, o indivíduo projeta seus conteúdos no mundo externo e as ataca, pois não são aceitáveis em si; a racionalização, construção de discurso racional afim de resolver todas as questões que incomodam o ego. Tais mecanismos evidenciam um comportamento neurótico em maior ou menor grau dependendo do nível do conflito, da dor e do sofrimento absorvido pelo sujeito. 

Podemos aqui concluir partindo de outros três pressupostos essências apresentados por Freud que representa o funcionamento psíquico, o Id, o ego e, o superego. O Id seria a instância psíquica mais profunda, regida pelas pulsões e o principio de prazer e satisfação, independente de regulação moral, o Id tende a descarga das excitações irrestritamente; o Ego por sua vez busca equilibrar a satisfação dos desejos e a realidade moral imposta pela sociedade, é um regulador entre o desejo e as condições reais de realização; já o superego surge como proibições, limitações e noção de autoridade, obtidas pela relação com os pais ou de exigências sociais e culturais. 

O mau funcionamento destas instâncias psíquicas ou o desarranjo é a origem das neuroses modernas, ou seja, da incapacidade de reconhecer ou compreender a realidade objetiva, causando distorções da mesma, dando assim descarga para desejos indesejados que causam posteriormente dor e sofrimento, impulsionando o sujeito a recorrer a mecanismos de defesa psíquicos para prover sua sobrevivência emocional, desencadeando a neurose! 

  A neurose nasce porque o sujeito não enxerga a possibilidade de reconciliar o, eu e o mundo, pois o motivo da neurose fica por vezes oculto, inacessível para o sujeito sem auxílio, reprimido pela própria neurose que se desenvolve como único caminho possível para a sobrevivência do Eu, expondo o sujeito a um stress constante, lutando a todo instante pela sua autopreservação.  

Finalizando o texto acredito que a cultura da terapia deveria ser difundida, não como um tratamento para loucos, mas sim como forma de expor, entender e interagir com os problemas, as expectativas existenciais, compreender a si mesmo e compreender o mundo que o cerca torna os conflitos menos dolorosos e aumentam a possibilidade de satisfazer as exigência do sujeito para consigo sem culpa, sem neurose!!  

Luiz Henrique Fagundes – 16/06/2020 – Filósofo e Psicanalista 

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